Olá fiel, só e triste leitor.
Hoje venho-te falar de um profundo desgosto que tenho:
Frequentemente nos queixamos do sensasionalismo e das ideias "comerciais" que nos passam, especialmente das "americaníces", mas tenho que admitir que certas coisas não funcionam de outra forma.
O exemplo que mais me afecta são os programas sobre automobilismo. Não se brinca co automobilismo!
...Ou melhor, deixa-me rectificar: DEVIA-SE brincar com o automobilismo, porque um carro ou um telemovel ou uma arma são isso mesmo, brinquedos, e deviam ser tratados como tal!
*Nota para as susceptibilidades feridas: CLARO que telemóveis, carros e armas são brinquedos! Ninguém está a dizer que não são objectos simplesmente úteis, para falar e para matar gente e isso, mas também são brinquedos! Pelo menos para nós homens... são uma espécie de maquilhagem «que usamos porque gostamos, não é para os outros verem», ou uma espécie de pilinhas artificias que gostamos de manter por perto.
Continuando a minha exposição:
Aqui está o bom exemplo daquilo que se faz "lá fora":
Aqui temos um teste a um carro "normal" (não me venham dizer que o TopGear só é interessante porque só testam grandes bombas), em que somos levados a conhecer o carro de uma forma cómica, vibrante, prática e cativante.
O locutor tem piada, o desafio é emocionante, existe adrenalina, existe beleza, existe desporto e o carro é demonstrado a fazer o que é suposto; Merda e cóbóiada!
Fica-se com vontade de conduzir aquilo!
Em Portugal, temos o quê?
Imaginem se o anúncio do Castelo Pirata da Lego fosse assim:
«Bom dia, cidadãos em idade pré-escolar, hoje apresentamos o novo produto da nossa empresa, o Castelo Pirata. Este equipamento é inteiramente composto por plástico ABS (ao abrigo da norma EU27372/59 Maio 2009 da Portaria 342 Artº 5º no documento anexo) e contém 570 peças, 20 das quais não deverão ser manuseadas por crianças com menos de 3 anos sem supervisão de adultos. Este equipamento de lazer e ocupação de tempos livres dispõe de um vasto conjunto de acessórios tais como pecinhas de plástico a simular objectos cortantes e armas de fogo que poderão equipar nos piratas, uau. É muito divertido, e didático. Apenas 69,89€, + IVA correspondente à taxa em vigor.»
Que criança normal e equilibrada se iria interessar por esta patacuada asquerosa?
O avô da criança sim, porque ia pensar: «Ora aqui está um brinquedo castiço e seguro para ofertar ao meu mais novo sucessor...» ...mas a criança não. A criança não...
Á semelhança deste anúncio falhado (fictício) de brinquedos, temos os programas de automobilismo portugueses (infelizmente reais).
Digam-me lá se a seguinte lenga lenga, entediante, desinteressante, quadrada, cinzenta, desactualizada, impessoal, desumanizada, lúgubre e estática não vos soa familiar:
"A Renault apresentou-nos este ano a sua nova proposta de monovolume, um conceito que tem vindo a ganhar raízes dentro da marca.
*//Passa a imagem de uma carrinha a circular a 35km/h dentro de uma povoação//*
O modelo apresenta-se com linhas discretas, características deste segmento, e uma distância entre eixos muito similar à do já tão conhecido Renault Scenic, cujo chassis serviu de base para o novo modelo.
Registam-se para já 3 motorizações disponíveis, 1.6 e 1.4 turbo-diesel, e a versão sport de 1,5 litros a gasolina a debitar uns confortáveis 125 cavalos.
Os bancos traseiros rebatíveis permitem extender a bagageira de 150 litros permitindo o transporte de todo o tipo de equipamento
*//Vê-se um tosco a rebater os bancos e a meter uma caixa de cartão dentro da bagageira, que caberia de qualquer forma, com ou sem bancos//*
Este modelo vem equipado com o standart da marca; direcção assistida com 2 níveis de actuação, espelhos eléctricos, sensores de estacionamento e ar-condicionado de série."
Heyna pá! Viva o consumismo! É que vou já a correr comprar! Até tem a mesma distância entre eixos do Scenic! Cum raio, não fazem outro igual tão cedo... e aqueles 125 cavalos? Estes gajos são mesmo tontos, ca cóbóiada!
Não se saibam vender, não... depois dizem «ai é a crise, é a crise" e tal..
E agora os cépticos, que duvidam da minha genialidade, vêm dizer:
«Guerra, és um animal que só vê as coisas à sua maneira. Não são só os aceleras e os drogados que conduzem carros! Pessoas responsáveis, mulheres e idosos (nota pessoal: mulheres e idosos...hahaha) também conduzem e também têm direito a ser devidamente informadas com programas adequados a elas!»
Eu podia concordar contigo, caro céptico, mas depois estaríamos ambos errados.
Passo a explicar com um exemplo:
Passo a explicar com um exemplo:
Eu uso toalhas todos os dias e não estou minimamente interessado em ver anúncios de televisão sobre toalhas. Se fizessem um programa vibrante, cativante, enérgico e criativo sobre toalhas, eu não o ia ver. Podiam fazer um programa da maneira que quisessem, de costas ou de barriga, até podiam por lava e dinossauros e explosões que eu não o ia ver. E no entanto uso e compro toalhas, mas a atenção que dou a esse utensílio é tão pequena que não vale mesmo a pena...quero uma toalha de uma cor "normal" e que enxogue fixe. Só isso.
Assim estão as mulheres (peço desculpa generalizar): Querem o carro X porque é bonito, é da marca que elas gostam (sabe deus porquê...), porque a prima da amiga tem um igual e diz que é fácil de estacionar e porque ouviram dizer qualquer coisa sobre ser económico.
Nota final: Não pretendo ofender as mulheres. A palavra mulher é apenas uma "alegoria" generalista para descrever todo e qualquer indíviduo que perceba e se interesse tanto por carros como eu por toalhas.
NOTA FINAL!!
Horas depois de postar este blog lembrei-me que me tinha esquecido de meter um exemplo dos anúncios em Portugal!
Ora veja lá, caro leitor, se não é tal e qual como eu expliquei:
http://www.youtube.com/watch?v=FmcHcItiD80&feature=related
Por Guerra, o Corrécio